A partir de suas peças de cerâmica, Helena Borges explora a capacidade das formas ao criar diálogos entre diferentes naturezas - do barro à semente, das cascas aos galhos e plantas, coletados no seu quintal. São formas e corpos que assumem possibilidades improváveis, que nos convidam a percorrer uma outra história das coisas.

Quando observamos algo, também fazemos parte daquilo que está sendo visto? Daí cria-se algo outro? Neste jogo de fronteiras, percebemos: quando a linguagem não dá mais conta de imaginar mundos possíveis, nos voltamos ao não-dito, ao vazio, ou ainda ao mais-que-dito, e permitimos que a natureza e seu espanto nos dê, novamente a coragem de criar. Criamos ao abrir os olhos, ao caminhar e mirar ao longe, o impossível, o dentro. Helena traduz, através do contato entre diferentes naturezas em sua produção, novas maneiras de absorver aquilo que está aí, de forma orgânica, trazendo faces de uma simbiogênese presente naquilo que alimenta o fazer artístico: colocar mundos no mundo.

SIMBIOGÊNESE E O ENCONTRO DE MUNDOS Por Laura Belisário

Somos todos líquens.
(Scott Gilbert, A symbiotic view of the life: we have never been individuals)

Simpóiese é uma palavra simples, que significa “fazer-com”.
Nada se faz por si só; nada é realmente autopoiético ou auto-organizado.

(Donna Haraway, Stay with the trouble: making kin in the Chtuluceno)